Scavo retrata, sob o olhar do Papa Francisco, o terror vivido na Argentina durante a ditadura militar após o golpe de 24 de março de 1976.
A PAULUS lança, nos próximos dias, uma das obras mais esperadas sobre o atual Papa. Trata-se de A lista de Bergoglio, livro reportagem escrito pelo jornalista italiano Nello Scavo, do jornal católico italiano Avvenire. O livro, resultado do intenso trabalho de pesquisas feitas pelo autor, foi lançado na Itália e em Portugal e será traduzido em oito línguas.
A obra retrata a ditadura argentina, quando Papa Francisco, na época sacerdote jesuíta, usou o seu próprio carro para ajudar e acolher no Colégio Máximo, no bairro São Miguel, perseguidos; ex-estudantes, seminaristas, catequistas e fugitivos à malha da repressão militar. Estas pessoas relatam testemunhos emocionantes ao jornalista Nello Scavo. Hoje, todos são profundamente agradecidos a um homem chamado Jorge Mario Bergoglio, em quem encontraram apoio até poucos meses antes da sua eleição como romano pontífice.
A lista de Bergoglio retrata o “Drama dos desaparecidos”, por meio de relatos de dissidentes, sindicalistas, sacerdotes, estudantes, intelectuais, crentes em Deus ou não, com destaque à história de pessoas salvas pelo então sacerdote jesuíta Jorge Mario Bergoglio. Entre elas, o sindicalista Gonzalo Mosca, escondido no Colégio Máximo como “estudante em retiro espiritual”, posteriormente deportado para o Brasil, e relata testemunhos emocionantes de perseguidos políticos, entre eles, o do jesuíta e teólogo argentino Juan Carlos Scannone, no qual revela a estimativa da lista das pessoas (mais 100) que Padre Bergoglio colocou em locais seguros.
O prefácio da obra foi escrito por Alfonso Pérez Esquivel, que em 1980 ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua defesa dos direitos humanos na Argentina. Ele foi um dos primeiros que testemunhou a favor do Papa. “Num encontro que tive com o Papa Francisco, conversamos sobre direitos humanos, e foi então que pronunciou esta frase: ‘É preciso continuar a trabalhar pela Verdade, pela Justiça e pela Reparação do estrago causado pelas ditaduras’”.
“Só o tempo poderá dizer quanto Francisco será capaz de mudar as heranças negativas que prejudicaram o Vaticano e a Igreja em geral. Conseguirá a Igreja reencontrar o caminho do Concílio, adaptando a mensagem aos tempos atuais e procurando animá-lo e iluminá-lo com a fé alternativa da justiça social para os povos?” é a questão que Pérez Esquivel coloca no prefácio do livro.
A carta inédita escrita por Bergoglio à família do Padre Franz Jalics, um dos dois jesuítas sequestrados e torturados na Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA), também é mencionada no livro, além do encontro de Bergoglio com o almirante Emilio Eduardo Massera, para pedir a libertação imediata dos dois jesuítas detidos.
A obra, lançada em coedição com Edições Loyola e Paulinas, traz relatos de Gonzalo Mosca, sindicalista perseguido por duas ditaduras; padre Francisco Jalics, Padre José-Luis Caravias; Alícia Oliveira; Alfredo Somoza; Martínez Ossola; Sérgio e Ana Gobulin, catequistas; entre outros. Além disso, o livro traz páginas do interrogatório de 2010, do então cardeal Bergoglio, no Processo Esma (Escola Superior de Mecânica da Marinha, local onde dissidentes foram torturados e mortos).
A carta inédita escrita por Bergoglio à família do Padre Franz Jalics, um dos dois jesuítas sequestrados e torturados na Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA), também é mencionada no livro, além do encontro de Bergoglio com o almirante Emilio Eduardo Massera, para pedir a libertação imediata dos dois jesuítas detidos.
O livro reportagem do jornalista italiano Nello Scavo, vai ter adaptação para o cinema e já foi lançado na Itália e em Portugal e esta sendo traduzido para outros idiomas.
O jornalista começou a entrevistar pessoas e viu surgirem aos poucos novos testemunhos. “O papa talvez não vá confirmar nunca, mas descobrimos que naquela época ele tinha criado uma rede de solidariedade para salvar os dissidentes e perseguidos, uma corrente em que cada elo não sabia do outro”. A investigação não foi fácil, porque muitos amigos de Bergoglio não contaram quase nada sobre as pessoas salvas pelo papa e porque o então provincial dos jesuítas nunca se vangloriou da sua obra humanitária.
O primeiro, contado por um amigo de Bergoglio: “O papa não quer espetáculos de marketing em volta da imagem dele”. E o segundo, deduzido pelo autor: “Por causa da dor diante de tudo o que aconteceu naqueles anos, em particular pelos desaparecidos, pelas crianças arrancadas das mães assassinadas, pelas torturas...”. Para Bergoglio, “ter salvado alguém não é nada diante da dor dessas pessoas”.
Os relatos de Nello evocam de alguma forma o dia 10 de abril deste ano, em que Francisco enviou uma carta à Associação das Mães de Praça de Maio, assinada pelo número dois do equivalente ao ministério de Assuntos Exteriores do Vaticano: “O santo padre participa da sua dor e da de tantas mães e familiares que padeceram e padecem a perda trágica de entes queridos naqueles momentos da história argentina”.
Uma das testemunhas, um homem que não era batizado nem crente e que na época trabalhava em uma revista, declara: “Bergoglio me protegeu, e, graças aos jesuítas, eu consegui escapar, primeiro para o Uruguai e depois para o Brasil”. Finalmente, ele zarpou “num barco mercante para a Itália”.
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