terça-feira, 18 de março de 2014
Fatos e História por Fernando Altemeyer Junior
"19 de março de 1964 – 50 anos da triste e reacionária Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Uma série de manifestações públicas organizadas por setores conservadores e de direita da sociedade brasileira em resposta ao comício realizado no Rio de Janeiro em 13 de março de 1964, durante o qual o presidente João Goulart anunciou seu programa de reformas de base. Congregou meio milhão de pessoas em repúdio ao Presidente João Goulart e ao regime comunista vigente em outros países.
Em São Paulo, a 19 de março, no dia de São José, padroeiro da família. Articulada pelo deputado Antônio Sílvio da Cunha Bueno juntamente com o padre irlandês Patrick Peyton, nascido no Condado de Mayo, Irlanda, em 9 de janeiro de 1909, fundador do Movimento da Cruzada do Rosário pela Família e ex-capelão estadunidense, com o apoio do governador Ademar de Barros, que se fez representar no trabalho de convocação por sua mulher, Leonor Mendes de Barros, organizada pela União Cívica Feminina e pela Campanha da Mulher pela Democracia, patrocinadas pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, o IPES.
Destaque para as falas do senador e sacerdote Monsenhor Calazans, contra o presidente. Plínio Salgado (da TFP) e outros oradores incitaram ao golpe e pela deposição do presidente eleito. Aconteceria depois outra marcha no Rio de Janeiro com um milhão de pessoas, em 02.04.1964, depois do golpe consolidado para comemorar a vitória feita pelos militares golpistas, e ambas tiveram o apoio do Cardeal Jaime de Barros Câmara, da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Em São Paulo naquele momento o arcebispo era o Cardeal Carlos Vasconcelos Motta, até sua transferência em 18 de abril de 1964, aos 73 anos, para ser o primeiro arcebispo de Aparecida. A Igreja católica brasileira, salvo exceções, apoiou explicitamente o golpe anti-democrático, com suporte religioso e ideológico.
A conversão viria anos depois pela profecia de Dom Helder, Dom Fernando, Dom Pedro Casaldáliga Plá e na década de setenta pela vigorosa postura de dom Paulo Evaristo Arns. Em depoimento, Dom Benedito de Ulhoa Vieira, bispo emérito de Uberaba, afirmou que não foi um movimento apoiado pela Igreja de São Paulo e que “a marcha de um milhão de pessoas, naquele tempo, era uma coisa respeitável, mas foi promovido por movimentos católicos, mas não partiu do governo do bispado, que era o Cardeal Motta, que não faria isso. O Cardeal sempre teve uma posição assim, muito reservada, a respeito da revolução um pouco antes.
Eu acho que isso é histórico, e eu sou testemunha, eu morava com ele, um pouco antes quando se falava em revolução e tal, falaram a ele. Ele disse uma frase que é antológica: Deus, eu cito textualmente, Deus nos livre das revoluções. Sabemos como elas começam, mas nunca sabemos como elas acabam. Essa frase é do Cardeal Motta, ele sempre teve uma posição muito reservada da revolução de 64. Nunca fez propaganda contra, mas ele, na intimidade, tinha uma reserva muito grande dessa derrubada do Poder Constitucional. (...) nenhum padre do Clero de São Paulo tinha ido a essa Marcha, sem ele proibir coisa nenhuma.
O próprio Calazans que foi, que esteve e não negava isso, não era do clero de São Paulo, ele era do Clero de Taubaté, depois ele passou para o clero de São Paulo, aliás, uma aquisição muito rica (...) ter o Calazans como membro do clero de São Paulo, um homem de grande valor intelectual e moral”. Nenhum membro do clero paulistano participou. Foi uma manipulação da direita usando da Igreja, do terço e da imagem de São José. Pura idolatria que é manipular falsos interesses dizendo que eram para a verdade."
Ricardo Gomes
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário