Com a central de energia eólica, nenhum temporal atrapalha a comunicação. (Foto: Flávia Pizelli).
Ventos de 20 Km/h geram energia que alimenta a cabine de comunicação.
Vilton (ao centro) explicou aos extensionistas da Emater-Rio, toda a técnica de instalação.
O pescador Evaldo mostra o material comprado com incentivo do Rio Rural. (Foto: Flávia Pizelli)
Há um ano, um pescador autodidata mantém uma estação de captação de energia eólica, que alimenta uma cabine para comunicação com os colegas em alto mar. Como não depende de eletricidade, a engenhoca torna-se à prova de tempestades. A preocupação com os amigos e os filhos deles fizeram o pescador Vilton Luiz Silva dos Santos, 45 anos, montar por conta própria uma cabine de comunicação alternativa para que toda a comunidade tivesse notícias do mar, principalmente em dias e noites de temporais. A microbacia concentra muitos pescadores e a cabine oficial da colônia é mantida através de energia elétrica que, em dias de temporal, sempre oscila ou tem o abastecimento interrompido. “Quando tem temporal ou falta energia, todos correm para cá. É um alívio ter um canal seguro para falar com quem está em alto mar. Só quem já esteve por lá ou tem filhos e amigos em situação parecida é que sabe como ficamos preocupados. Essa cabine é à prova de apagão”, disse Vilton, considerado uma espécie de “professor Pardal” pelos vizinhos e colegas. Além de servir a comunidade, ele utiliza a captação de energia eólica para carregar baterias de carros, máquinas e barcos e, com isso, aumentar a renda.
Vilton explica que ventos acima de 20 quilômetros por hora, muito comuns naquela área, geram energia suficiente para o funcionamento da cabine. “É uma segurança essa central dele. Ficamos sempre preocupados com quem está no mar e, depois da invenção do Vilton, nunca mais perdemos o contato com ninguém”, diz o também pescador Evaldo da Silva (68), líder de uma família de sete irmãos pescadores.
A mesma preocupação com os amigos, o pescador inventor mantém com o meio ambiente. Há 20 anos, ele toma conta de um mangue que viu nascer e crescer em frente sua casa, no Canal das Flechas. “Nasceu uma plantinha, depois foram crescendo outras e acabei conseguindo ajuda dos órgãos ambientais para proteger o espaço. Hoje ninguém mexe no mangue. Vigio e recolho o lixo que acaba chegando pela água. Explico para as crianças que o mangue é o berçário do mar e isso é muito importante”, defendeu.
"Quando apresentamos o Rio Rural em Barra do Furado, parecia ser um trabalho muito difícil, mas eles nos surpreenderam. São engajados social e ambientalmente. Na verdade, todos são muito amigos uns dos outros há vários anos e isso reflete na organização comunitária e no ambiente a ser preservado para os descendentes", analisou o técnico agrícola da Emater-Rio, Fábio Oliveira, que executa o Rio Rural, programa da secretaria estadual de Agricultura.
Além de proporcionar uma convivência mais fácil, o engajamento social fez a microbacia obter, em 2013, R$ 1,5 milhão em financiamento do Pronaf Pesca (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pesca). “Os pescadores buscam financiamento para melhoria dos barcos, compra de equipamentos maiores e melhores. Eles querem melhorar as condições de trabalho e sabem buscar os meios para isso”, explicou Fábio. A expectativa é que neste ano outros pescadores também recebam incentivo do Rio Rural. “Até o momento, 31 pescadores já foram incentivados, mas este ano o número de subprojetos deve crescer ainda mais”, prevê.
O secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo, destaca que o litoral norte fluminense possui histórica vocação para a atividade pesqueira, envolvendo grande contingente de famílias, com predominância da pesca artesanal. "A articulação de ações entre o Programa Rio Rural e a Emater-Rio, através da assistência técnica continuada e dos subprojetos ambientais e produtivos, tende a beneficiar cada vez mais os moradores de Barra do Furado com aquisição de novos materiais. Tudo isso vai facilitar o escoamento da produção desse setor", analisou.
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